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terça-feira, 9 de outubro de 2012

CRÔNICAS INTOLERANTES: O EU OBTUSO


Desenho: Tapiti Marcas


Cansei de ser amigo da ignorância e fingir humildade para agradar medíocres. É um crime que venho cometendo diariamente e em consequência disso sinto-me morto, enterrado, em deterioração.

O meu tempo foi dado às vanglorias da pobreza intelectual, ao invés de alimentá-lo com manjares abandonados entre as paginas dos livros em minha estante. 

Confundi simplicidade com estupidez e por isso aprendi da maneira mais insensata que entre os simples de inteligencia não há humildade de coração, e sim arrogância e inveja.

Tudo para não estar sozinho, tudo para estar entre gargalhadas, mas enquanto minha alma se deleitava no prazer imundo das tabernas, meu espírito e mente sofriam a tormenta submetida. 

Desvio-me, pois de ti, arredores obtusos da minha alma, sigo pela via mais difícil, contudo, mais satisfatória para e mim e para um mundo melhor.

Rivas Araujo

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

CRÔNICAS INTOLERANTES: ABSTINÊNCIA


Desenho: Álvaro Maia
O corpo ardia em febre, como se laços do inferno o atassem e grilhões da morte pressionassem os seus órgãos. Um espiral de agonia interna sempre afunilando para dentro lhe dava sinais de paralisia e as noites eram intensamente purgatoriais. Chegara até mesmo a deixar rolar os hábitos comuns de se entregar a todos os tipos de vícios até que o seu corpo definhasse de vez e fosse parar na cova, se bem que isso não era nenhum tipo de terror que lhe incomodasse, temia mesmo era a dor: viver amargando uma realidade diferente de muitos que se assentam nos bares no fim do dia para tomar uma cerveja olhando o pôr do sol enquanto o câncer lhe comeria os pulmões ou a cirrose se familiarizasse cada vez mais com seu maldito corpo putrefato.

Andava pela casa inteira no desespero, mas havia escondido as baganas de cigarros e tudo o que cheirava a álcool não via por perto. Chorou, cerrou dentes, teve insônia e calafrios. Puta que pariu! Tudo por uma questão de abstinência. Dias atrás decidiu não mais ser um cavalo dos vícios e seguir de corpo limpo até uma próxima estação onde um copo da melhor cachaça da sua terra não fosse mais um sintoma de suicídio.

(Devaneios Noturnos de um certo Intolerante)

sábado, 12 de novembro de 2011

RASCUNHOS: SONHO COM MOJAVE


As noites negras

Não estão mais aqui

Por que tudo o que

Move tb

sangra

Diante do teu

céu

Imensamente

estrelado...


(Joana Darck Remígio Coelho)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

DE COMO OS SIMPLES SÃO MAIS FELIZES

Renata Cruz

Invejo a felicidade dos homens que vão apenas onde os cabrestos lhe ditam.

Invejo mais ainda aqueles que insistem em não se libertarem disso.

É como se soubessem que indo além não tem mais volta.

Saber demais, pensar demais, questionar demais cansa.

Hoje estou com vontade de deitar e não acordar tão cedo.

Deixar que o manto escuro do nada me absorva e dê um pouco de paz ao meu coração rechaçado.

Seu Joaquim, voltando do trabalho, aprochegou-se à budega do seu Manoel e pediu uma dose de pinga. Saiu fora na porta e ficava olhando para o céu segurando o copo americano. Parecia estar filosofando consigo mesmo e com o tempo. Refletindo sabe-se Deus a respeito de quê.

Da porta de casa sentia o cheiro do bom chambarí que a mulher preparava. Encostou a magrela no pé de carambola, tomou um banho e foi para o quintal fumar um cigarro de palha. Mais uma vez olhando para o tempo meditando, filosofando sabe-se Deus a respeito de quê.

Dia seguinte rotina! Terminando de construir a casa do doutor Arquimedes que muito exigente só confiava o trabalho mais delicado ao seu Joaquim. Hora da marmita, lá estava ele comendo satisfeito o punhado de arroz, feijão, uma rodela de tomate, macarrão e um bife duro por cima da arrumação toda. Olhando para o céu mastigando o bife que mais parecia um pedaço de plástico que não se ia nunca, olhava para o céu com o olho arregalado, parecia estar filosofando consigo mesmo e com o tempo. Refletindo sabe-se Deus a respeito de quê.

HAIKAIS PARA A PRIMAVERA DE PALMITO CITY

Renata Cruz

I


Caju

Pequi

Ca – quí


II


Evilson

Ar condicionado

Dia de sol


III


Cajus enfeitam a Alameda

Ontem

Hoje, Pequi


IV


A Ipê casou

Tirou o vestido

Ficou pelada


V


A raposinha no centro da Girassol

Ao redor, asfalto


IV


Graciosa às 18 horas

Graciosa

Graciosa

sábado, 23 de julho de 2011

CRÔNICAS INTOLERANTES: O NÓ DO CADARÇO

Saltou da cama, descomprometido com horários e pessoas, mas precisava cruzar duas alamedas a pé até o mercado para comprar aguardente e comida, se quisesse ter um dia sem incômodos. E foi nessa hora que sentiu algo estranho ao calçar o seu tênis do pé esquerdo – o lado que cabe a sua destreza e habilidade manual. Mesmo assim, andou a extensão necessária sentindo sempre algo fora do normal no pé esquerdo.

Sentado no sofá tirou o tênis fora e verificou o que tanto lhe inquietava e lembrou: era o nó do cadarço do pé esquerdo que estava amarrado diferente.

Geralmente ele compra o tênis e põe os cadarços de um jeito só. Amarra cientificamente igual, de modo que a pressão sobre a parte que aperta fique sempre fácil de meter o pé no tênis sem que haja problema e nunca mais mexe nesses cadarços. Lembrou, pois, fora ela que na noite passada sentada na grama meteu a mão no seu pé e tirou o cadarço e simplesmente os colocou novamente.

Recostou-se um pouco mais no sofá olhando para o teto e sorria sozinho lembrando do momento em que ela ficava tão calma arrancando os cadarços do seu tênis e os colocando de novo.

Aquele sorriso que produz calma, aqueles olhos por trás dos óculos lhe fazendo feliz e infeliz ao mesmo tempo.

O nó do seu cadarço já não era o mesmo, assim como ele também já não o era.

sábado, 9 de julho de 2011

CRÔNICAS INTOLERANTES: O RATO PUTREFATO

Arte Gráfica por João Ribeiro

http://johnrivercartoon.blogspot.com/



"Vivendo debaixo da casa,
Supostamente vivo, sou um rato
Tudo o que tenho é tempo,
Sem sentido, só uma rima"
(Creep - Stone Temple Pilots)

A cabeça de um rato morto rodeada de formigas fincava-me o olhar frente a porta do meu quarto no exato momento em que a abri. Olhava-me desafiadoramente como se estivesse vivo. Não sabia ele que aquele era o olhar de um rato morto para um rato putrefato.

De rato entendo bem. Sei como é viver no escuro e se alimentando do pouco que pode roubar. Ser perseguido pela escoria mais assassina que é o ser humano. Achar na hora certa um lugar quentinho para acomodar seus furtos e descansar sua cabeça.

Dias depois senti o cheiro horrível que invadia a casa, era cheiro de rato morto. Cheirei a mim mesmo para me certificar de que o rato morto era o outro, e era mesmo, mas não consegui encontrar a sua catinga e o cheiro perdurou por dias e por dias pensei muito na minha condição como rato.

Um rato é o que eu sou e nada mais! Não morto nem vivo, mas um rato que apodrece aos poucos e que vê a qualquer momento o fim de sua lastimosa vida.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O SOBRADO DA CASA


O sobrado da casa

Alhos fritos deixavam o ar com aspecto de fogueira quando está se apagando, mas o cheiro era extremamente atraente as boas narinas. Dava mesmo vontade de ficar na parte que era destinada a cozinha apenas para ter profundas viagens sob o psicodélico sabor do tempero.

Esse cheiro fique sabendo, não era consentido apenas por quem estava dentro da casa, mas também por quem passava na rua: a fumaça saia pela janela do sobrado e para quem já estava acostumado a passar pela rua sabia que aquele era sinal de que o morador estava provavelmente incorporando o seu espírito cientista e que de outro modo também esta demente em seus devaneios pessoais. Havia aqueles que apostavam, no bar um pouco mais abaixo da rua, qual seria o próximo sinal após depois da fumaça.

Jeremias sentado em um canto mais escuro e menos movimentado do bar viu um cara entrando com calças desajustadas e camiseta amarrotada era de quem havia acordado naquele momento, assim também como sua cara denunciava. Logo percebeu que era o homem do sobrado que expelia o sabor do alho queimado pela janela.

Logo ocorreu a Jeremias que era um bom momento para ganhar uma aposta e se dirigiu a mesa onde se discutia o próximo sinal após o cheiro do alho e disse: o sinal seguinte seria o dono do sobrado comprar cigarros baratos e uma garrafa de aguardente, mais cebola e tomates. Agora aposto o dobro de tudo o que foi apostado que o passo seguinte será ligar para ela.

sábado, 18 de junho de 2011

OS DIAS DO ESCORPIÃO

Depois de dias recluso, perdido em seus devaneios, saiu fora de casa e olhou em seu quintal para o céu – cabelo grisalho encaracolado caindo sobre os olhos, barba por fazer e os olhos fundos estranhando qualquer tipo de luz que fosse – viu a constelação de escorpião. O monstro gigante parecia ter sido desenhando por Leonardo da Vinci. Prepotente, ostentando sua beleza acima das outras constelações.

Três estrelas formavam a meia abóbada de cima definindo cabeça e tentáculo e uma linha desenhava a curva do corpo que findava com a calda ameaçadora, e entre a cabeça e o corpo um coração violentamente pomposo mudava de cor em dinâmicas plásticas tal qual Van Gogh saberia muito bem pintar segurando um candeeiro como em Noite Estrelada.

Entendeu que aquele era o momento de fazer a barba, cortar aquele cabelo imundo e organizar seus livros na estante. Ver gente! Ficar mais um pouco exposto a luz do sol e daqueles postes que circundam a sua Alameda. Eram os dias do escorpião, tal como nunca fora visto em dias anteriores de suas ciências dementes.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

QUANDO É PRECISO MATAR PARA NÃO MORRER


Um menino de dez anos via um velho morrer de idade avançada.
Ele fixava os olhos na criança e a crianças fixava os olhos no velho.
A cada fixação de olhar o velho puxava de dentro do diafragma um ultimo tiro de respiração

- Uhhhhhh..., Ahhhhhh...

Seria um cenário aterrorizador para o menino, mas ele apenas virava o rosto e olhava tudo com cabeça inclinada, sem nada dizer, ou expressar apenas olhava.

Um velho via uma criança nascer. Ele tinha 75 anos. O nascimento lhe lembrou a vida e a morte. Lembrou toda uma trajetória pelo qual a vaidade biológica humana atravessa. O velho chorou ao lembrar dos seus erros, acertos, medos, ganhos e perdas. A vida é vida e morte pensou. Enquanto eu beiro a morte, alguém assume o meu lugar na vida.

Um menino de dez anos dava suas ultimas ânsias de respiração forçada, estava morrendo de um câncer que lhe tinha já consumido cedo. No mesmo hospital, um velho com pouco mais de cinqüenta anos, ganhava um coração novo para dar impulso a vida mais uns dias. Um, ainda novo, foi ceifado, o outro ganhou a vida perdida daquele.

09 de outubro de 2007, voltando de férias para casa, o carro da família Alves patinou na estrada molhada e a pouco se viram todos os passageiros do carro embaixo de um caminhão de cargas pesadas. Nenhum sobrevivente! No banco de trás, um menino de dez anos e o seu avó de sessenta e nove. A noticia diz que a criança abraçava o avô na hora do acidente, como se ele estivesse protegendo o mais velho. O que tinha toda a vida tentava garantir a daquele que de tudo já tinha visto.

Vida e morte! Infância e velhice! Tempo! Maldito tempo! cabe a mim te matar, antes que me mates de vez!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

ENQUANTO O CAOS SEGUE EM FRENTE COM TODA A CALMA DO MUNDO


Os pneus de sua motocicleta pareciam patinar sobre o asfalto das curvas e linhas retas, tal qual o patinador no gelo procurando aventuras casuais e quietas nos tumultos embebecidos pela agonia da sede de libertação da aflições cotidianas nos assuntos superflos e gargalhadas tortas, tontas ébrias da madrugada.
Mas, ainda não havia chegado a lugar algum, estava procurando. A cidade parece vazia. Pelo dia um sol danado que empurra os cidadãos para as calçadas a fim de aliviarem-se nos tragos adormecentes.

Poucos lugares, ele notou! Não haviam muitos becos para entrar como antigamente. As modas se tornaram velhas nesta cidade! Contudo, guardava uma certa calma com relação a isto. Lembrou daquele velho mito de que quando as coisas estão quietas demais é por que um caos está para se firmar, alias, a bolha já está se formando em algum lugar de alguma forma.
Mas tanto faz, se há um caos invisível ou se algo muito bom está prestes a romper junto com a aurora, lhe importava cumprir consigo mesmo as obediências a sua efemeridade, ou seja, estava mesmo era louco era para aproveitar a noite. Desta vez, via tudo como se houvesse ressuscitado do Hades. Percebia no clima quente uma nostalgia estranha, sentia que aquela era uma noite onde nada importava a não ser a embriaguez da alma nos encantos noturnos.
Então passou em frente àquele sobrado fantasma. Era um sobradinho que a anos atrás passava para vê-la sem que ela soubesse.

É como se sua motocicleta tivesse se transformado em dirigível sobrevoando um intervalo não muito distante do seu passado. Percebeu então que realmente não havia problemas na noite. Não é que não existiam lugares para ir ou o que fazer, era sua ausência que tornava tudo vazio e sem sentido. Precisava mesmo, de fato, era estar com ela, seja onde quer que fosse.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O GENE AMALDIÇOADO


Um gene se pos entre uma fenda curiosa do cérebro e ali repousou. A tal fenda fica entre a genialidade e a habilidade de comercio.
Quando alguém nasce com este gene, torna-se maldito. Tende a ser um réprobo entre os bufões. Quer dizer, enquanto o mundo pertence aos idiotas, estes malditos se tornam pobres estatuas para enfeitar museus após a morte, se é que alguns conseguem tal feito.

Sabe-se, por exemplo, que as coisas geniais que se tornaram conhecidas ou foram roubadas ou compradas por míseros preços. Por isso existem os mecenas, os caçadores de talentos e os falsificadores, sem eles a humanidade seria um paupérrimo sitio de bosta, pois, os mecenas e os mercadores sabem negociar o que é bom e o que não é; mas os malditos com o tal gene, serão sempre excluídos, cientistas e magos do conhecimento supremo, contudo, sem ânsia de domínio, ambição talvez, de pouquíssimas coisas.

Queria aquele moleque ter todo o material de desenho que o filho da puta do idiota endinheirado tem pra dominar o mundo. E que tal aquele pequeno tocador de guitarra empenada ter toda a coleção de pedais analógicos e parafernálias eletrônicas necessárias para ser o maior musico do mundo?

O gene amaldiçoado esta na célula de meninos de ruas, de desenhistas, poetas, escritores, músicos e toda a laia nojenta que passa fome ou corta a orelha por não conseguir se quiser material suficiente para a produção daquilo que instintivamente sabe fazer.

Quem nasceu com o gente comum a todos é o que corrobora de tudo o que o mecenato vende, o que nasce com o gente maldito se sente de alguma forma incomodado com tudo e se martiriza por não entender por que não é igual a todo mundo. Por que sempre anda na contra mão. Por que não consegue assumir a condição de pessoa comum entre todos.

Maldito gene, maldito gênios pobres que por poucos são conhecidos, mas que por muitos é conhecido a sua obra com outros nomes. Maldito gene. Maldito gênios de poucos. Maldito seja!

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