sexta-feira, 9 de outubro de 2009

QUANDO É PRECISO MATAR PARA NÃO MORRER


Um menino de dez anos via um velho morrer de idade avançada.
Ele fixava os olhos na criança e a crianças fixava os olhos no velho.
A cada fixação de olhar o velho puxava de dentro do diafragma um ultimo tiro de respiração

- Uhhhhhh..., Ahhhhhh...

Seria um cenário aterrorizador para o menino, mas ele apenas virava o rosto e olhava tudo com cabeça inclinada, sem nada dizer, ou expressar apenas olhava.

Um velho via uma criança nascer. Ele tinha 75 anos. O nascimento lhe lembrou a vida e a morte. Lembrou toda uma trajetória pelo qual a vaidade biológica humana atravessa. O velho chorou ao lembrar dos seus erros, acertos, medos, ganhos e perdas. A vida é vida e morte pensou. Enquanto eu beiro a morte, alguém assume o meu lugar na vida.

Um menino de dez anos dava suas ultimas ânsias de respiração forçada, estava morrendo de um câncer que lhe tinha já consumido cedo. No mesmo hospital, um velho com pouco mais de cinqüenta anos, ganhava um coração novo para dar impulso a vida mais uns dias. Um, ainda novo, foi ceifado, o outro ganhou a vida perdida daquele.

09 de outubro de 2007, voltando de férias para casa, o carro da família Alves patinou na estrada molhada e a pouco se viram todos os passageiros do carro embaixo de um caminhão de cargas pesadas. Nenhum sobrevivente! No banco de trás, um menino de dez anos e o seu avó de sessenta e nove. A noticia diz que a criança abraçava o avô na hora do acidente, como se ele estivesse protegendo o mais velho. O que tinha toda a vida tentava garantir a daquele que de tudo já tinha visto.

Vida e morte! Infância e velhice! Tempo! Maldito tempo! cabe a mim te matar, antes que me mates de vez!

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