domingo, 20 de junho de 2010

CAPA


Corre a historia de que aquele menino que jogava pelada aqui na rua

Foi visto dormindo na estação.

Com fome, com ódio, sem medo e com frio

Seguro apenas pelas mãos de Deus.

Não era pra ser assim

Mas acontece que o próprio sistema que o criou

O chama de pivete, ladrão, bandido e drogado

“vaza daqui pivete, que comer o quê, voce quer é comprar pedra!”

O peso da pedra, o peso da pedra

O peso da pedra, o peso da pedra

Esquecem que foram eles mesmo que jogaram esse fulano ali

Família destroçada, infância traída e furtada

Quando o peso do mundo caiu sobre sua cabeça

Trabalhou a loucura na lata

E o peso que tem sobre si agora

É o que deixa passar a dor

É o peso da pedra, o peso da pedra

O peso da pedra, o peso da pedra

______________________________________

Meses atrás, pra comprar um baseado tava uma loucura na cidade. Nego da alta a baixa classe padecendo aos urros por que tudo o que era traficante foi enquadrado no medo de ser preso, visto que a Policia tinha fechado o certo contra as bocas da cidade toda. Estourou um monte e foram presos vários passadores.

Dizem as falas que o grande lance é que a pedra se tornou um problema de ordem e saúde pública, o que preocupa o governo. E então, em função de minimizar o tráfico do crack a policia caiu matando a pau em cima de tudo o que era coisa relacionada a tráfico de drogas na cidade.

A venda da pedra de crack é um jogo sujo de se fazer, por que apesar de que já tá quase tudo o que era viciado de maconha fumando pedra também, até a alta classe, diga-se de passagem, as grandes vítimas são as crianças e adolescentes, o que significa uma aberração social e uma covardia para sujeitos vitimas da alienação do poder público.

Se você senta em algum buteco pelas calçadas de Taquaralto, logo vai ficar horrorizado com o que rola. Crianças, adolescentes, jovens e adultos cercam as mesas, vestidos imundamente, sujos e com o tom de pele amarelado, mais ou menos como o meu desenho de capa ai em cima, pedindo grana para poder comprar comida, ou pegar buzu, sendo que todo mundo já sabe que o lance é outro. São pessoas já familiarizadas com as figuras comuns na noite sul de Palmito City.

A verdade é que a pedra para estas crianças é tal como a cola de sapateiro foi no passado. A primeira vez que vi alguém fumando esse treco miserável foi em São Paulo na região chamada cracolandia e a muito tempo atrás. Antigamente o comum era ver garoto com a cara enfiada dentro do saco de leite ou dentro da lata verde de cola de sapateiro para poder aguentar o tranco do dia a dia, depois andando pela calçada notei um dia que a cena comum era também lata, mas sendo usada de forma diferente. A cola havia sido substituída por algo mais excitante para o cérebro. Anos depois, foi se tornando comum ver também entre as pessoas da periferia, os usuários de maconha, aderindo a pedra, por ser mais forte, ter um efeito mais amenizador e ser mais barato de comprar. Mais a frente classe média e alta, agora a pedra chove sobre a cidade como saraiva no Egito. Uma verdadeira praga!

A questão é tão séria que o que rola é que os "boca" vão empurrando lentamente a parada, tipo, NÃO TEM PRETO, SÓ TEM MESCLADO, ou SÓ TEM BRITA, VELHO, VAI LEVAR? O viciado na neura de usar alguma coisa, qualquer coisa compra e depois volta e pede mais e ai é lucro pra quem vende e ferração pra quem compra.

O peso da pedra, já foi dito, vai desde a criança que é jogada na rua pela familia, até a saúde publica, e ai é o único momento onde o governo se preocupa em interferir seriamente, por que não quer gastar grana com pivete viciado dando trabalho e sujando a imagem da aparente perfeita capital.

E assim, os meninos que ficavam só em Taquaralto e já estão queimados, agora infestam a cidade se multiplicando feito formigas em cima de açúcar, vigiando carros, engraxando sapatos, pedindo, esmolando, furtando e sabe lá Deus mais o que se faz pela bendita pedra mágica.

Multiplicação, é isso que se vê. Uma vez que o garoto viu que o outro se garantiu de ficar um dia inteiro na rua sem comer seguro pela maldita, ele também vai atrás.

Sabe onde essa porra toda começa? Começa nas familia destroçada e fodida. Tá cheio de menino espalhado pela cidade que não quer voltar pra casa ou que não tem mesmo como voltar por que não tem mais uma. Como censurar uma criança pelo uso de uma droga se quando a mulher do cara larga ele o infeliz enche a cara de cachaça? Não é a mesma máxima?

O poder publico tem que agir em cima da questão social se quiser lidar com esta situação, estes pobres meninos são vitimas, depois já são ameaças e depois penitenciários ou mortos.

Que a piedade do ser divino recaia sobre está cidade, pois com o aumento de mercadões e consumismo, vem também a delinqüência, e é ai onde o pedido de esmola se transforma em arma empunhada, pois diante da rejeição e da insuficiência de manter o vício, a patricinha rouba as jóias da mãe ao mesmo tempo em que o moleque de 13 anos escora alguém no muro, ambos no intuito de manter o pão de cada dia.

Confira discussão semelhante no blog O Edén da Luxúria.

http://edendaluxuria.blogspot.com/

5 comentários:

Ana Caroline disse...

É difícil ver como se tornou comum o consumo e como as pessoas fecham os olhos pra quem esta a sua volta.
A realidade é cada vez mais de destruição, deixam de lado o q ue há de mais importante: a vida *--*

Unknown disse...

linda colocação Ana, é que todo mundo está preocupado com o seu lado, e acaba que não interessa o que acontece em volta. Vezes por vezes estando nós em mesas de bares ignoramos o que acontece em volta em função de nossa propria vaidade...

Fernanda Neves disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernanda Neves disse...

Entendo o crack como uma arma de "limpeza". Foi criada para dar uma geral uma vez que a aids não conseguiu o q a peste no passado realizou: uma matança geral!
Bobos dos q usam por curiosidade e pobres dakeles q usam para afugentar seus tormentos!!
Triste ver mais uma vez essa força poderosa destruir milhares de vidas (não estou falando de algo espiritual mas desse poder elitizado q domina nosso mundo). E novamente não podemos fazer nada pq nunca fizemos nada!!!!!

Paulo disse...

Sempre é necessário abordar esse assunto, interessante quando expõe a situação de taquaralto e redondeza, acho interessante a galera saber a realidade, dêem um rolÊ por la a noite, saberão como funciona os efeitos malditos dessa merda!

O chamado centro também ta começando a ficar contaminado...não é tão explicito quanto, mais a tendência é ficar pior que lá...

Seguidores

Revista Palmito City