ANTONIO!

Num te preocupa não Antóin, esse povo da cidade é assim mesmo, fala que gosta da gente, mas é pura mentira. Rala tua mandioca tranquilo, ajunta o dinheiro e ai sim vai pra cidade grande, mas meu filho, não sai assim disprecavido não, voce vai ser devorado pelas cobras. E foi-se o pobre antonio com seus poucos tostões, chegou na cidade grande e gastou tudo com o que viu na TV e depois se fudeu, quis voltar pra casa, mas era tarde demais e aquela menina que jurava que não ligava pra sua beca desbotada e pro fato de não ter grana, passou na sua frente com um carinha com gel no cabelo, parecendo gala e depois ligava pro antonio dizendo que eram apenas bons amigos. Ai o Antonio se sentou na calçada do shopping e ficou olhando o movimento ao redor, pensou: Ralar mandioca o caralho, já que eu to aqui, vou até o fim. Se virou, ganhou grana comprou um carro bacana e se fudeu de novo, conheceu outra vibe que não deu conta de segurar. O Antonio chegou um dia em casa cheio de dividas, abandonado por todos e disse a sí mesmo: agora vai ser assim, vo ganhar grana de novo, vo andar becado, só que agora vou me orientar pelas coisas que minha velha disse. Evitou as festas de burgueses safados e nojentos, se deteve a praticar culinária, arte, música, leitura e escrita, tava ficando mais distante do mundo real, mas um dia em uma apresentação de obras de arte, uma menina lhe chegou ao lado e disse: voce entende o que ve? Ele disse sim, sou amante do Impressionismo, os olhos dela piscaram, viu que era um moço simples, mas sensato, de coração bom. E foi assim que o Antonio virou um cara sem necessidade de se ajustar ao meio dos crueis lobos vestidos em pele de carneiro e amou e foi amado por aquela menina que conseguiu enxergar além da sua aparencia e fortuna.