segunda-feira, 6 de julho de 2009

BOA VIAGEM

Desenho: Renata

Como não se sentir cansado após tão fatigante viagem?
Se fossem somente os pés, um bálsamo resolveria.
Ou se tão somente o corpo pesasse, mas é a cabeça.
A cabeça é a parte que mais se sente cansada.

Até que não agüentou mais e debaixo de um Zimbro clamou pela morte.
Pediu insistentemente que ela a levasse.

O fato é que as lembranças, os erros e acertos já não contavam para nada.
Queria mesmo sentir um descanso além de uma noite só.
Um descanso mais profundo e acalento.

Um lapso momento o fez sentir como a criança que era
Em que em um dia de chuva torrencial corria aos braços de sua mãe
E confortavelmente se assegurava de que ali nada o acometeria.

Mas agora não. Agora não sabe bem para onde correr.
Por isso se assentou ali e pediu o beijo da morte.

Tão fria e tão medonha foi a noite que o cobriu como um manto.
Dedos enrijecidos contorcendo-se para dentro da palma da mão.
Trêmulos lábios que estranhamente sorriam como se dizendo: “será ela?”.

É dia, e quando a sua consciência voltou dois pensamentos lhe ocorreram antes que abrisse os olhos: “que imagem aparecerá na minha frente?”.

Temia por abri-los e ver o sol, por isso ficou um bom tempo deitado, ali mesmo às raízes do Zimbro.

Antes do meio dia as pessoas corriam para perto de um córrego onde se dizia que noite passada um curisco rasgou o céu e partiu uma arvore ao meio, e junto às suas raízes levou um moço cuja aparência não se podia nem comentar.
(Intolerante)

Nenhum comentário:

Seguidores

Revista Palmito City