Hemerson Silva. O fotógrafo visto por sua própria lente
Só quando transgrido alguma ordem o futuro se torna respirável
Se cada hora vem com sua morte
Se o tempo é um covil de ladrões
Os ares já não são tão bons ares
E a vida é nada mais que um alvo móvel
Você perguntará por que cantamos
E nossos bravos ficam sem abraço
A pátria está morrendo de tristeza
E o coração do homem se fez cacos
Antes mesmo de explodir a vergonha
Você perguntará por que cantamos
Se estamos longe como um horizonte
Se lá ficaram as árvores e céu
Se cada noite é sempre alguma ausência
E cada despertar um desencontro
Você perguntará por que cantamos
Cantamos porque o rio esta soando
E quando soa o rio / soa o rio
Cantamos porque o cruel não tem nome
Embora tenha nome seu destino
Cantamos pela infância e porque tudo
E porque algum futuro e porque o povo
Cantamos porque os sobreviventes
E nossos mortos querem que cantemos
Cantamos porque o grito só não basta
E já não basta o pranto nem a raiva
Cantamos porque cremos nessa gente
E porque venceremos a derrota
Cantamos porque o sol nos reconhece
E porque o campo cheira a primavera
E porque nesse talo e lá no fruto
Cada pergunta tem a sua resposta
Cantamos porque chove sobre o sulco
E somos militantes desta vida
E porque não podemos nem queremos
Deixar que a canção se torne cinzas.
Antologia Poética – Mário Benedetti
* (A Renata, parceira no blog, me mostrou um poema que seu irmão colocou pra ela no Orkut, dai, achei da hora colocar aqui. Muito massa.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário