Por Carlos
de Bayma*
É mais apropriado contar uma história
pelo começo. Relatar os pormenores de como principiou, como se formou, quais
circunstâncias envolvia o fato em questão, como cada elemento foi se juntando
até ter-se, efetivamente, o começo. Mas, só algumas linhas gerais serão
apresentadas, pois para contar toda essa história seria necessário escrever
livros e mais livros. Três estágios sustentam os acontecimentos da história dos
povos: o surgimento, o apogeu e, como não poderia deixar de ser, o declínio.
Houve uma época em que essa região que
hoje chamamos de Tocantins era o mais ermo dos sertões. Grilagem de terras e
assassínios eram apenas necessidades básicas dos mandatários, coisas que ainda
não foram, de todo, extirpadas. E a história oficial, seja no Brasil ou no
exterior – mas no caso de países subdesenvolvidos essas relações promíscuas de
poder são mais acentuadas – a história oficial sempre procura minimizar as
desgraças, escondê-las, omiti-las ou até mesmo negá-las.
Coronéis, sinhozinhos e sinhazinhas,
capatazes, capitães do mato, escravos e insurretos eram alguns atores dessa
peça macabra. Uma espécie de circo macabro ou inferno dantesco. Os governantes,
legisladores, escrivães, delegados, professores e todas as demais ocupações
eram exercidas somente com o consentimento do coronel mais rico e forte, ou
mediante acordos entre os mais “notáveis” das mais ricas e abastadas famílias.
Nada podia sair do controle. Não permitiam o diálogo e qualquer manifestação contrária
era rechaçada.
Não quero me ater a esses pormenores
fatídicos, mas essas considerações são necessárias. E assim o Brasil permaneceu
durante muito tempo. Quanto mais distante dos grandes centros, quanto menos
livros e jornais circulavam, mais aumentava o poder dos tais coronéis, mais
oficial eram suas falas e seus posicionamentos. O destino de muitos que ousaram
discordar das prédicas senhoriais era a deserção ou a morte. Morte com requinte
de crueldade, só para servir de exemplo. Eram senhores de gente, animais, casa
e árvore. O apogeu.
Mas, o tempo passou e hoje podemos
perceber a olhos nus, os últimos resquícios de coronelismo caindo por terra. É
o fim da república dos coronéis. Caminhando pelas ruas da Capital, de norte a
sul, você pode perceber o sorriso estampado no rosto das pessoas. Seguras ao
andar, ao falar sobre seus anseios e expectativas. Elas já não se sentem mais
ameaçadas, embora de algum modo ainda sejam, não têm mais medo de manifestar
suas opiniões, mesmo sendo funcionários públicos, contratados, desempregados.
Palmas, com 23 anos de idade, já não é
mais uma criança que segue arrastada pelo padrasto sádico. É uma cidade adulta,
embora bastante jovem, que já sabe o que é melhor para si, que não teme as
caretas nem os laços – que agora se desvencilham de vez. Palmas vive um novo
momento. Já não se conforma com o modelo político vigente, onde o povo é amado
e cuidado apenas no discurso. Se nada ou quase nada fizeram para melhorar a
vida das pessoas, é porque nada queriam fazer, pois sempre tiveram orçamento,
cargos, mandatos. Sim, muitos recursos têm sido disponibilizados, muito
dinheiro. E os deputados, eleitos para cuidar do Estado, nada ou quase nada
fizeram para mudar esse cenário. Por quê? Agora querem apresentar soluções,
querem discutir saúde, educação, cultura, civilidade?
Não vai ter coronel capaz de manietar
o povo e manipula-lhe a vontade, mesmo que nos “caixa dois”, nas cachoeiras do
crime organizado jorre torrentes de dinheiro, ainda assim o povo de Palmas vai
preferir a liberdade, a autonomia. Poder se expressar e escolher seu próprio
destino, liberdade para pensar diferente, para trabalhar coletivamente. A
liberdade é um bem primordial para a alma humana e não vale a pena ser trocado
por nada. Eu também quero Palmas livre, é isso. Palmas para Palmas, afinal, um
novo caminho é possível, sim!
* Carlos de Bayma é
jornalista, escritor, cantor e compositor, vocalista da banda praZion! Lecionou
durante seis anos na rede municipal de ensino, na Escola Carlos Drummond de
Andrade. Publicou O Arquipélago (poesia, 2003), Acerca da Sorte e Mistério de
Curimbã (conto, 2005) e O Menino Incendiário (poesia, 2010).
Um comentário:
Quanto a era dos coronéis, concordo plenamente. Nada foi tão bem descrito. Quanto à emancipação da população de Palmas, reservo as minhas dúvidas. Não creio que ainda tenhamos conseguido. Creio que como em Goiás, trocamos um coronel por outro, qualquer que seja a opção que ganhe das três melhores avaliadas nas pesquisas.
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